Boneca Russa

Série, duas temporadas, criação Leslie Headland, Natasha Lyonne, Amy Poheler – EUA, 2019/22

Finalmente estreou a segunda temporada de Boneca Russa, três anos após o lançamento da primeira. O início promissor e a curiosidade despertada pelo argumento excêntrico/ousado geraram grande expectativa,  esticada demasiadamente pela Covid. 

Na primeira temporada Nadia faz 36 anos. Ao sair da festa que celebra seu aniversário, na casa de sua melhor amiga, ela sofre um acidente e acaba morrendo. Desperta no banheiro da mesma casa, na mesma festa para tornar a morrer logo em seguida, até entender que está presa em um ciclo temporal que inicia nesse misterioso banheiro e culmina com sua morte. Nadia, que é programadora de games, tenta desesperadamente descobrir o bug que a está aprisionando. Nessa jornada detetivesca conhece Alan que sofre a mesma situação. Alan é uma espécie de antítese de Nadia, uma sarcástica  nova-iroquina com visão cética sobre o mundo.

Nadia (Natasha Lyonne) e Alan (Charlie Barnett), presos no mesmo labirinto.

A segunda temporada, na qual Nádia completa quarenta anos, aumenta a dose de surrealismo, e nos leva para uma viagem ao passado que lembra muito Buñuel e Freud, com situações surrealistas que só o cinema oportuniza, inseridas na regressão psicanalítica. É uma combinação explosiva que a série articula muito bem na condução narrativa e na construção do inusitado, principalmente no entendimento da realidade que é transmitido ao espectador a conta gotas, como se revela aos protagonistas. Faltou uma pitada a mais de aprofundamento, digna das genialidades do cineasta espanhol e do pai da psicanálise, para tornar a série uma obra absolutamente… fora de série. Mas como Boneca Russa faz uma reflexão sobre o contemporâneo, é provável que houve um cuidado para não “exagerar” na profundidade. Ainda assim, é um prato cheio para quem gosta de fugir da mesmice, sem ter que sair da poltrona. Uma das interessantes provocações é o tema da mãe (mais uma vez Freud), abordado de maneira muito peculiar. Ótimo programa para o  dia das mães.

Natasha Lyonne, uma das criadoras da série, faz também o papel principal, além de escrever e dirigir alguns episódios. Conhecida como uma das protagonistas do grande elenco de Orange is The New Black, aprofunda-se agora na direção, produção e roteiro. Boneca Russa pode ser vista na Netflix.

Uma consideração sobre “Boneca Russa”

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