Advertência: essa é uma obra de fricção. Qualquer semelhança com fatos, pessoas e situações reais é de responsabilidade do próprio leitor.
O ex-presidente B acordou após uma noite de sonhos intranquilos com a sensação de que o pesadelo no qual tentava, desesperadamente, proteger suas hemorroidas em uma cela escura, estava prestes a desembarcar do universo onírico para a vida real. Um bando de policiais com mandato de busca e apreensão invadiu a sua casa e levou computador, tablets, seu celular e pasmem, seu cartão de vacinação. Antes que fosse algemado correu para telefonar para aliados, políticos, militares, advogados, botando a boca no trombone. Nessas conversas ficou sabendo que seu ex-ajudante de ordens, aquele que tentou reaver as joias sauditas aprendidas pela alfândega antes da fuga presidencial para a terra do tio Trampo, havia sido preso nessa mesma operação, bem como outros assessores do ex-presidente.
No entanto, não se tratava do caso das joias das Arábias. Nem da investigação das fake news. Tampouco tratava-se do atentado à democracia, pelo qual seu ex-ministro da justiça já estava preso. Era um novo escândalo, o da adulteração dos cartões de vacina dele, de sua filha menor de idade, de seus assessores e a mulher de um deles, que viajariam com ele aos EUA na véspera de ele não entregar a faixa presidencial ao governante eleito e despedir-se do foro privilegiado. Como a lei estadunidense exigia comprovante de vacinação para quem entrasse no país, e como o presidente e sua turba preferiam a morte a tomar a vacina (a morte de outros, é claro), resolveram a parada com uma operação extremamente astuta, criando fake cartões de vacinação, forjando documentos e adulterando dados no sistema do SUS, usando para isso o gabinete da presidência. O que mais assustou B, não foi constatar que a PF descobriu a ardilosa fraude, foi o sigilo absoluto da operação policial contra ele. Esta o pegou, literalmente, sem calças. Era um claro sinal que seus comparsas na PF, no Ministério Público e em outros órgãos não tinham mais aquele acesso esperto à informação operacional. Ou continuavam tendo, mas não eram mais seus comparsas.
Logo quando ele se achava mais tranquilo em relação a ser preso e tornou a botar as manguinhas de fora, desfrutando de uma pequena vitória no Agrodoce Show, do qual o ministro de agricultura do presidente L fora desconvidado por sua causa, a PF, em pessoa, invade a sua casa. E ainda por cima apreendem as suas armas. Levem a Micheque mas não levem as minhas armas!!!, queria ele gritar, mas estava perplexo demais. Acabou não sendo preso, apenas convocado a depor, mas apreenderam também seu passaporte. Droga, pensou ele, falsificar um novo passaporte já é bem mais complicado. Iria ter que fugir para um país do Mercosul. Sentiu-se muito próximo de ver seu pesadelo premonitório se concretizando. Uma onda de autocomiseração inundou seu peito, ameaçou embargar-lhe a voz.
O que encontrarão no celular do ex-presidente, candidato a futuro presidiário? Será que ele, que escapuliu de responder pela morte de milhões de brasileiros, atrasando ao máximo a vacinação, acabará caindo por um falso atestado da vacina? Não perca nos próximos episódios de A Casa do Baralho.